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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

TRAGÉDIAS

As comunidades humanas de vez em quando padecem provocações, que resultam de cousas diversas - crimes, intempéries da natureza, epidemias, atitudes passionais dos grandes ajuntamentos humanos, imprevidência das pessoas ou dos governos outros. Teresina tem sofrido também, no curso de sua história, dias aflitivos e penosos.

Em 1875 houve o pânico, tempo em que a varíola matava por todos os recantos da cidade, que ocupava apenas a parte plana da margem do rio Parnaíba. Frei Serafim de Catânia tornou-se o piedoso confrontador dos padecentes: "Jamais recusou da porta do pestoso, simples trapo de carnes podres, caindo aos pedaços, sem feições reconhecíveis, momento terrível de miséria humana. Esse quadro, muitas vezes renovado, não o abateu durante longas jornadas a qualquer hora do dia ou da noite. Ao ouvido dos desgraçados, sem desfalecimentos nem tardança, trazia a paz da consolação suprema" - assim escreveu o ilustre Elias Martins. Dois anos depois da varíola, a seca de 77. Centenas de retirantes chegavam ao Piauí, vindos do Ceará. E para o Piauí não tardou a penúria, a fome, a morte. Teresina abrigou multidão de exaustos e doentes.

As cheias formidáveis dos dois rios que banham a cidade, de tempos em tempos inundam habitações, sobretudo as choupanas da pobreza sofredora - e desabrigados sem conta permanecem até que as águas baixem e seja possível reaver as choças miseráveis ou levantamento de novas.

O cerco da Coluna Prestes, entre 1925 e 1926, vinda pelo sul do Estado, fez que grande parte da população, espavorida, abandonasse a cidade e tomasse os caminhos do norte, por medo da fuzilaria ensurdecedora e perigosa.


A. Tito Filho, 23/11/1988, Jornal O Dia.

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