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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

IMPRESSÕES

Presenciei episódios em que se envolveram Eurípedes e gente que com ele não simpatizava, a exemplo de Edgard Nogueira e Humberto Reis da Silveira - casos de desfechos gozados. Raros jornalistas e homens públicos conheci com tanto humor, tanto sal do espírito, a serviço de fina ironia e contundente sarcasmo. Mas nele coexistiram a honestidade, o brio, o destemor, a paixão de idéias nobres. Honrou os cargos que lhe foram confiados, pelo voto ou pela vontade de governadores.


Vários companheiros de luta participaram da vida de Eurípedes, como Ofélio Leitão, uma das penas mais fortes e admiradas da imprensa piauiense, pelo asseio da frase, expressão bem construída, afirmação de coragem. Dono de boa e séria leitura. Professor culto, antigo procurador geral da Justiça, faz anos exerce funções advocatícias no Banco do Brasil, a que dedica honestos conhecimentos jurídicos. Cidadão simples, de palestra alegre e jovial, muito amigo do próximo, bondoso com os pequenos, de humanos pecados, da forma que se revelam os construídos do barro bíblico, proprietário, entretanto, de um bocado de virtudes espirituais.

Com os recursos da cabeça, que nele guarda inteligência cultivada e vasto e assimilado conteúdo humanístico, conquistou, numa disputa sem falhas, o justo prêmio da cadeira nº 14 da Academia Piauiense de Letras.


Nesta conferencia, Ofélio revela-se sóbrio e fiel estudioso dos caracteres humanos. Faz retrato histórico do amigo e companheiro de embates políticos e jornalísticos. Focaliza o ambiente passional em que os fatos se desenvolveram, a constelação familiar do homenageado, os modos de fazer jornal na época - e em tudo põe o olho da verdade, que ele quis e conseguiu prezar acima de tudo, embora a distancia dos anos ainda seja pequena para apagar o fogo dos peitos inflamados pelos entrechoques das odiosidades malsãs do partidarismo sem freio.

Parece que no trabalho se casam, sob as bênçãos de lições de saber, o estudioso e o presenciador dos episódios, ora ricos de valentia cívica, ora graciosos, como se inspirados na verve inconfundível dos franceses.


A. Tito Filho, 22/11/1988, Jornal O Dia.

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