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terça-feira, 30 de novembro de 2010

AINDA FLOCLORE (2)

O folclore poderia dizer-se a história moral do homem, como insinua Câmara Cascudo. Melhor é identificá-lo como a história natural das coletividades, da sua alimentação, dos seus tabus, das suas orações, dos seus ritos, da sua vida diária, para o reconhecimento da cultura - da cultura como conjunto de normas sociais de que participamos.

Daí porque o trabalho do escritor, quando procura a fonte folclórica como sustento do livro, há de compreender as manifestações populares no campo, em que elas se manifestam, para anotar-lhes as variantes e oferecer a fisionomia da realidade cultural. Não se pode reproduzir o folclore na sua universalidade, apenas. É necessário entendê-lo como a ciência do homem-comum. E o homem-comum é a preocupação de Ibiapina, para projetá-lo no quadro da vida urbana e da vida rural, - como contadores de estórias de bichos, reproduzidas de geração em geração, como personagem de novelas de amor, de heroísmo, como personagem de facécias, de cenas de bravura para lavação da honra ofendida, sempre respeitoso com a mulher, - objeto das preocupações do macho numa terra de preconceitos, e mais: como personagem da violência de um mundo que o prepara para o ódio e para a vingança - o ódio e a vingança sugeridos e provocados pelo desequilíbrio dos processos da vida social.


A. Tito Filho, 25/12/1988, Jornal O Dia.

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